Segundo sua etimologia, a palavra fotografia significa gravar ou escrever utilizando a luz. Mas o que “gravar ou escrever utilizando a luz” pode ter em comum com a nossa visão?
A resposta está nos dispositivos de captação. Se você entende um pouco de fotografia, deve ter uma ideia aproximada da estrutura de uma câmera fotográfica e como funciona o processo de captação das imagens. De certa forma, internamente, a câmera se assemelha muito aos nossos olhos. O sistema visual é composto por uma incrível complexidade, que, assim como uma câmera, funciona a partir de fenômenos físicos comuns.
Antes de entender a similaridade entre ambas, precisamos compreender como a visão funciona.
Visão
De forma simplificada, para que a visão possa captar informações, é necessário que o objeto de atenção esteja iluminado e dentro do campo visual.
A luz que o ilumina é refletida em sua superfície e direcionada aos nossos olhos. Ela atravessa a córnea, a pupila e o cristalino, chegando à retina. Após isso, a retina interpreta a luz e a codifica em impulsos nervosos, que são enviados até o cérebro pelo nervo óptico.
Cada uma das estruturas mencionadas possui um papel importante na percepção da luz, em que pequenas alterações podem causar mudanças na qualidade da visão.
Semelhanças
Córnea, cristalino e lentes objetivas
Os olhos, assim como uma câmera, possuem um conjunto de lentes com capacidade refrativa, que permitem o ajuste do foco das imagens enxergadas. A córnea e o cristalino são duas destas lentes naturais.
No aspecto refrativo, a córnea funciona como uma lente fixa, enquanto o cristalino, “móvel".
Uma câmera fotográfica, por exemplo, regula o foco alternando a distância entre suas lentes, aumentando ou diminuindo essa distância.
Em contrapartida, por meio do processo de acomodação visual, nossos olhos utilizam os músculos ciliares para adaptar a curvatura do cristalino, alterando sua refração e realizando o ajuste do foco.
Íris, pupila e diafragma
Câmeras fotográficas possuem o que chamamos de diafragma, um pequeno orifício que se expande e contrai com o objetivo de controlar a passagem de luz até o sensor ou filme.
Limitar ou aumentar a entrada de luz serve principalmente para deixar a foto mais clara ou escura, com base na iluminação ambiente.
Com o mesmo intuito, a pupila é um orifício que, através da íris, pode se expandir ou contrair, realizando o controle da claridade enxergada. Em ambientes muito iluminados a pupila se contrai para reduzir a entrada de luz, realizando o processo inverso em ambientes com baixa luminosidade.
Retina e sensor/filme
Seja numa câmera digital ou analógica, a luz que chega através das lentes precisa ser sensibilizada e registrada de alguma forma. Isto é feito por meio do sensor ou filme, respectivamente.
No digital, através de efeitos fotoelétricos, o sensor transforma a luz que chega até ele em sinais elétricos que são, em seguida, convertidos em imagem.
Em câmeras analógicas, o filme é composto por íons de prata sensíveis que reagem à luz, criando o contraste visível em fotos negativas.
A retina opera de forma semelhante. Através de células fotossensíveis, ela interpreta a luz e a converte em impulsos nervosos, que são transmitidos ao cérebro pelo nervo óptico.
Pálpebra e Obturador
Embora não desempenhem exatamente as mesmas funções, podemos fazer uma analogia entre o obturador e nossas pálpebras.
O obturador é uma espécie de cortina que protege o sensor ou filme contra a exposição constante à luz. Expondo-os por tempo limitado, apenas para o registro da fotografia.
Este tempo de exposição pode variar de acordo com a foto tirada.
Nesse sentido, a pálpebra assume a função de parar a entrada de luz e impedir a sensibilização das células da retina, limitando o uso da visão.
Qual proporciona maior qualidade de imagem?
Esta é uma pergunta um tanto difícil de responder. A quantia de megapixels (MP), embora não seja o único, é um dos fatores que influenciam na captação de imagens de alta resolução. Simplificando, podemos fazer uma correlação entre a quantia de células fotorreceptoras em nossos olhos e a quantia de MP presentes em uma câmera.
Nossos olhos possuem cerca de 7 milhões de cones, responsáveis pela identificação das cores, e 130 milhões de bastonetes, pela intensidade da luz. Sendo assim, podemos comparar nossos olhos a aproximadamente 274MP – ou 137 MP em cada olho.
Para efeito de comparação, as melhores câmeras profissionais da Canon e Nikon presentes no mercado têm em torno de 40 MP.
Entretanto, outros fatores como o processamento da imagem resultam em uma boa resolução. O que torna nossos olhos, disparados, melhores que as câmeras, uma vez que nosso cérebro proporciona uma capacidade de processamento muito maior, que utiliza outros métodos a seu favor, como a memória e a criatividade.
Comments